sábado, 1 de julho de 2017

[Crônica] Uma Saga de 21 Km

  Essa não será uma crônica sobre uma única corrida desse ano. Será sobre 3 edições de uma prova que ocorre há muito anos, a Meia do Rio, uma prova que ocorre junto com a Maratona do Rio. Eu iria até mais longe e diria que essa crônica pode ser considerada como uma pequena fábula.

2015 - Iniciação 

    Em janeiro desse ano eu estava num projeto extremamente estressante no meu trabalho e que me demandava muito esforço. Entre meus colegas havia um chamado Moisés. Ele era paulista e veio para o Rio passar cerca de dois meses para nos ajudar. Moisés também era corredor de rua e já havia participado de algumas meias-maratonas. Ele estava animado para participar da meia que, tradicionalmente, ocorria no mesmo dia da maratona do Rio e acabou se inscrevendo. Nessa época eu ainda era "virgem" em corridas de 21 km. Eu tinha uma espécie de medo de não aguentar correr isso tudo e passar mal durante a prova. Apesar de praticar esse esporte desde 2005, nunca havia competido em distâncias maiores que 12 km. Mas resolvi encarar o desafio e comecei a treinar com ele pela orla de Copacabana durante a semana à noite, aproveitando o calor típico do horário do verão. E também fazia treinos mais longos sozinho nos finais de semana. Fizemos vários treinos até que meu amigo teve que retornar para Sampa. Eu continuei treinando, mas foi nessa vez que cometi um dos maiores erros da minha carreira de corredor amador. Iria estrear numa distância grande sem possuir um treinamento específico. Perto da prova, meu amigo me disse que não poderia mais vir e acabou repassando a inscrição dele. Logo ele, que foi meu principal motivador para participar dessa corrida. Só que tenho uma característica: procuro pensar bastante antes de encarar um desafio, mas se resolver enfrentá-lo, vou até o fim. E foi isso que fiz. Participei dessa meia-maratona sem estar plenamente treinado e habituado a corridas desse tipo. Logo na largada cometi um erro primário ao sair disparado fazendo um ritmo acima de 12 km / h, uma verdadeira loucura para quem nunca havia treinado na distância dessa prova. E não deu outra. Quando cheguei na altura de 11 km comecei a ficar "sem perna" e fui praticamente me arrastando até o final da prova. Antes disso, na altura do km 18 senti algo de estranho e cheguei a pensar que iria realmente passar mal. Tive que buscar uma força mental para me levar praticamente caminhando até a chegada. Terminei em 2 horas e 15 minutos.


2016 - Adaptação
    Comecei esse ano com um foco na minha mente: participar novamente da Meia do Rio, mas dessa vez de forma séria e me preparando corretamente. Logo no início do ano, por volta de fevereiro, conversei com o treinador Carlos Martins da equipe Pé Carioca, a mesma na qual eu costumava me inscrever nas provas e solicitei a ele uma planilha de treinamentos para essa corrida. Após o Carnaval comecei a fazer os treinos, dessa vez de forma adequada e planejada. Comecei a fazer vários treinos com distâncias grandes, os famosos longões, durante os finais de semana e treinos mais curtos e específicos durante a semana. Estava tudo indo bem até pouco mais de um mês para a prova, quando tive uma contusão no músculo posterior da perna esquerda que me incomodava tanto a ponto de cogitar não participar mais da corrida. Foi aí que procurei o fisioterapeuta Marcos Bastos, uma fera nessa área e que trabalha com vários atletas de ponta. Ele começou um tratamento que consistia em muitos alongamentos, acupuntura, nenhuma musculação para as pernas e redução da minha carga de treinos. Graças ao Marcos consegui chegar na última semana preparado para encarar o desafio. Mas a famosa Lei de Murphy realmente existe. A corrida seria no domingo e na quarta-feira comecei a me sentir gripado. Nos dias que se sucederam tive a grande prova que a força mental é espetacular quando sabemos usá-la. Os dias se passavam e, para minha sorte, era um feriado na quinta-feira emendando na sexta-feira. Fiquei trancado em casa me hidratando ao máximo, tomando muita Vitamina C e descansando ao máximo para não piorar. O principal é que, em nenhum momento, passou pela minha cabeça desistir de participar da corrida. E tenho certeza que essa mentalização foi o que me fez estar curado em tempo recorde no domingo para participar da prova. Na largada, me lembrei do que fiz no ano anterior e não saí correndo como um louco. Fui num ritmo mais tranquilo e não tinha nem sinal da coriza que eu sentia até o dia anterior. Minha contusão muscular também não dava sinais. Estava tudo bem quando o tal do Murphy entrou em ação no km 8 quando a sola do meu tênis esquerdo se descolou dele. Era um tênis antigo porém excelente. Só que me preparou essa surpresa logo no dia da Meia. E tive que participar do resto da prova com o pé esquerdo praticamente descalço. Mas com tudo isso, consegui ir levando numa boa e o desempenho foi bem melhor até o km 20  quando fiquei cansado e resolvi seguir num trote bem lento até o final. Faltando 100 metros para a Chegada tive uma contratura na panturrilha da perna esquerda, a mesma da contusão. Mas aí eu fui andando e completei a prova, com todos esses percalços, em 2 horas e 10 minutos, 5 minutos abaixo do ano anterior.


2017 - Realização
    Posso garantir que esse foi um dos melhores anos da minha vida de corredor. Meu foco era novamente essa Meia Maratona do Rio, mas diferentemente dos anos anteriores eu havia me inscrito em outras duas meias que ocorreriam cerca de dois meses antes dela. Diante disso comecei a treinar logo na primeira semana de janeiro e usando a mesma planilha do ano anterior. Nesse ano tive um problema pessoal grande e comecei a treinar muito, o que acabou servindo como uma terapia para conseguir encarar tudo. E foi devido a isso que grandes surpresas começaram a surgir na minha trajetória pelas corridas já no primeiro semestre. Logo na minha segunda corrida desse ano, fiquei em primeiro lugar na minha faixa etária. Em seguida participei da primeira meia de 2017, a Rio City, terminando a mesma em 2 hora e 3 minutos. Um tempo espetacular se comparando com as duas meias dos anos anteriores. E eu ainda teria mais uma grande alegria. Participei de uma corrida indoor realizada pela rede de academias Smart Fit e fui o campeão da minha unidade. Eu não estava acreditando no que estava acontecendo. Antes da Meia do Rio, ainda participei de uma meia maratona de montanha chamada Wine Run que foi realizada na cidade de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Usei essa última corrida como um grande treino para a Meia do Rio, indo bem devagar em alguns pontos onde as subidas eram bem íngremes. 
    E o plano deu certo. O dia da almejada prova estava frio no horário da largada, às 6:45 da manhã, e resolvi correr com uma camisa de manga longa por cima de uma camisa térmica. Eu me sentia bem usando isso tudo, mas logo após a largada cheguei a pensar que poderia me arrepender e que essas roupas todas poderiam me prejudicar na corrida. Mas isso não aconteceu. Me sentia extremamente forte na prova e bem melhor do que todas as outras meias que participei. Os quilômetros se sucediam e eu sentia que tinha gás para ir até mais forte, apesar de já estar num ritmo excelente. Quando cheguei no último quilômetro, ainda tive pernas para conseguir dar um sprint e terminar a prova no tempo surpreendente de 1 hora e 55 minutos. Há 12 anos atrás, quando comecei a correr, eu jamais imaginei que um dia correria uma meia-maratona e, principalmente, que faria uma delas abaixo de 2 horas. Realmente não existe impossível quando acreditamos e corremos atrás dos nossos sonhos. Pode demorar 12 anos, mas se você for merecedor, a alegria do sonho realizado vai chegar.




Um comentário:

Flávia Schütz disse...

Fantástico texto!!!! Inspirador!!!!
Vou seguir seus passos e treinar com mais afinco... apesar deste Murphy aparecer sempre!!!!!! Abraço